Eu gostaria muito de ser negro,
ter um metro e noventa, cabelo enroladinho;
Gostaria de passar e ser
observado, pelo tamanho, pelo espaço que ocupo, pela sombra que faço.
Sempre cheiroso, calmo, trânquilo;
Ser objeto de desejo, ser o porto
seguro, enfim, tudo que um negro representa;
Mas ao mesmo tempo lembro que eu
poderia ser discriminado e ao me ver passar alguns corressem, se escondessem,
fugissem de mim com medo do que eu represento, minha força seria negativa,
agiria contra mim;
Pelos prós e contras, acho que
prefiro ser rico, milionário, fazer muitas viagens, onde não houvesse lugar
nenhum do mundo que eu não pudesse conhecer, iria visitar os astecas, a cidade santa, a cidade sagrada, olharia de
perto a fome nos países baixos e quem sabe fazer algo; dormir na Europa,
acordar na Ásia, almoçar na América Central, jantar na América do sul, conhecer
tudo,falar e entender todas as línguas,mas penso que isso também poderia me
trazer a inveja, meus dias poderiam se tornar monótonos, vazio;
Pensando melhor, talvez eu
quisesse ser bissexual , bivalente, eu poderia ter mais companhias e ter mais
força para alcançar meus sonhos, meus desejos, mas também lembrei que gostando
apenas de um sexo, pra mim já é meio complicado, talvez com dois eu me
perderia, não saberia lidar;
Talvez se eu fosse “homo”,
conseguiria entender porque os homens não assumem esse seu lado, se envolvem
com drogas, bebidas, espancam suas mulheres, e não são felizes;
Para não correr o risco de só
encontrar esse tipo de homem, é que homo não me atrai, ser hétero me deixa numa
situação confortável, porque não preciso brigar com as indecisões lá de fora;
Eu queria ser trapezista,
malabarista, viver as alturas, testando minha coragem, sem me preocupar se o
brilho dos olhos que me vem são doces ou temem por mim, sentem o medo que eu
gostaria de sentir, viver nas alturas talvez seja menos perigoso, que ser
negro, causa medo, talvez seja mais aceitável do que ser “bi” ou “homo”, já não
sei mais;
A inveja, a dor, a angústia de
quem sofre desses males, impedem minha transformação naquilo que eu poderia
gostar.
Às vezes fraco, frágil, um ser
precisa só ser, fingir um contentamento, fingir que não vê, ser negro é ser
distante ter narinas largas ou malabarizar pode me expor e até me matar, mas
gostaria muito de ser um negro grande, um “preto” gentil, conquistar meu espaço
acima de um metro e noventa, ter sempre a ternura de quem não precisa, viver
nas alturas, escondendo de si mesmo e amar quem você é.
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